O começo de "Game of Thrones" não foi generoso para Daenerys Targaryen.
Vivendo exilada de Westeros após a rebelião que acabou com a morte de seu pai, o rei Aerys, ela foi forçada pelo inescrupuloso irmão Viserys a se casar com Khal Drogo, um completo estranho, de costumes e idioma bem diferentes dos seus.
Tudo em troca de um exército que os colocaria novamente no Trono de Ferro.
A jovem de cabelos platinados, no entanto, deu a volta por cima como ninguém. Em uma jornada de erros e acertos, a Mãe dos Dragões acumulou títulos, soldados e seguidores.
Agora, ela chega à oitava e última temporada da série da HBO, que estreia neste domingo, dia 14 de abril, não só como uma de suas personagens mais amadas, mas também como sua líder mais poderosa - uma trajetória que sua intérprete, Emilia Clarke, define como "um dos maiores presentes que um ator pode receber".
"Você ganha a chance de exercitar todos os músculos e pedir para o público te acompanhar em uma jornada para entender de onde ela vem", contou Emilia ao UOL em fevereiro, durante evento para promover a série em Londres.
Não foi só contar uma história para o público. Eu pude viver cada uma dessas experiências que criaram parte de quem Daenerys é.
Mais que uma rainha
E que história. Em menos de uma temporada, Daenerys se tornou uma khaleesi querida, perdeu o filho que esperava e o marido após confiar em uma bruxa e renasceu do fogo com três dragões que se tornariam seus companheiros inseparáveis. Daí em diante, a Targaryen assumiu de vez o papel de líder.
Ela conquistou exércitos e dominou várias cidades, libertando seus escravos. Apesar de aclamada pelo povo, ela se deparou com a dura realidade de governar e teve de enfrentar revoltas e decisões equivocadas.
Acabou capturada pelos dothraki, voltou e, por fim, saiu em direção a Westeros com alianças preciosas com Tyrion e os irmãos Greyjoy.
Lá, teve uma vitória impressionante sobre o exército Lannister e se aliou a Jon Snow, o Rei do Norte. Ao fim da sétima temporada, porém, ela teve seu pior revés: perdeu um de seus dragões, Viserion, morto pelo Rei da Noite.
Adeus, Daenerys
Assim como Daenerys, Emilia também cresceu em "Game of Thrones". Nos dez anos desde que começou a trabalhar na série, ela se tornou uma das atrizes mais famosas (e bem pagas) de sua geração, viu as propostas de trabalho aumentarem e ainda enfrentou dois AVCs - uma batalha revelada por ela recentemente, em um texto para a revista "The New Yorker".
"[A série] me transformou de criança em adulta. E é mágico que isso tenha acontecido, só Deus sabe onde eu estaria sem Daenerys. Eu não tinha ideia sobre nada quando comecei na série. Nada mesmo: a indústria, atuação, TV, sociedade, política, nadinha. Eu tinha 22 anos".
Por isso mesmo, o processo de despedir-se da personagem tem sido bem emotivo para a britânica de 32 anos. "Dez anos da vida de uma pessoa estão recheados de grandes momentos. Dizer adeus à série, dizer adeus a Daenerys é, para mim, dizer adeus a muitos desses grandes momentos".
Em seu último dia de trabalho na produção, Emilia não conseguiu conter as lágrimas. "Foi o dia em que eu percebi que o álcool também podia ser um depressor", lembrou, bem-humorada.
Sua cena derradeira, parte de um dos finais falsos feitos para despistar os curiosos, foi gravada diante de boa parte da equipe da série e, em seguida, a atriz fez um discurso. Ou tentou fazer:
"Não consegui terminar a primeira frase sem me acabar de chorar".
Mais tarde, ela e os colegas foram para uma festa organizada por David Benioff e Dan Weiss, os criadores de "Game of Thrones". "Toda vez que era o último dia de alguém nós saíamos para jantar e ficar bêbados. E eu estava lá, com uma taça na mão, quando percebi que aquilo não estava me deixando mais feliz [risos]".
O fim de tudo
O desfecho dado por Benioff e Weiss à saga épica baseada nos livros de George R.R. Martin deixou uma impressão forte na atriz.
"Recebi os roteiros de todos os episódios e li em uma tarde. Saí de casa só com as minhas chaves e andei sem rumo por Londres durante três horas, porque é muito, muito épico".
Ela sabe, no entanto, que o final não será unanimidade. "Você quer que todos fiquem felizes, mas a última temporada de qualquer série vai deixar pessoas decepcionadas e chateadas, vai provocar brigas em grupos de amigos.
Haverá um 'de que lado você está?', e acho que tudo isso faz parte", afirmou, dizendo acreditar que a produção está indo embora no momento certo:
"É importante deixar as pessoas querendo mais".
Mencionar detalhes dos últimos seis episódios é, por motivos óbvios, completamente proibido na entrevista. Emilia limitou-se a dizer que Daenerys estará "pisando em ovos" no início da temporada - muito provavelmente por sua chegada a Winterfell, onde não só ela terá de enfrentar o exército do Rei da Noite, como também conhecerá a família de Jon Snow, com quem se envolveu ao fim da sétima temporada.
O relacionamento de ambos, aliás, deverá ganhar mais espaço na reta final.
"Eles são incrivelmente semelhantes. Eles têm muitas coisas que os conectam e os amarram um ao outro. Acho que ele desperta nela uma honestidade que ela ainda não havia experimentado"
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