No primeiro estudo, pesquisadores britânicos testaram repetidamente o sangue de um grupo de profissionais de saúde altamente expostos ao vírus durante a primeira onda da pandemia, quando as vacinas ainda não estavam disponíveis.
O que eles encontraram foi algo muito surpreendente.
Os profissionais de saúde expostos ao vírus que não desenvolveram a doença — e nem foram capazes de produzir anticorpos neutralizantes — formaram células de memória especiais, que foram apelidadas de células T reativas cruzadas.
Pensa-se que tendo resfriados causados pelos quatro coronavírus antigos, eles estimularam a formação de células T de memória que foram capazes de neutralizar o novo coronavírus.
O interessante é que essas células T de memória cruzada não atacaram o pico, mas as estruturas internas do vírus. Isso abre a possibilidade de desenvolver novos tipos de vacinas, não direcionadas ao pico, mas às estruturas internas do vírus.
O segundo estudo mostrou que as crianças produzem duas vezes mais células T reativas cruzadas que os adultos, sugerindo que essa é a explicação por que as crianças não apresentam tantos sintomas quanto os adultos quando infectadas.
No terceiro estudo, foi demonstrado que as pessoas que moravam na mesma casa e não estavam infectadas também eram pessoas que produziam maior número de células T com reação cruzada.
Genética, um fator chave
Esses três estudos postulam então a teoria de que certos seres humanos — com a genética certa — são capazes de não se infectarem com o SARS-CoV-2. A razão é que eles armazenaram células de memória produzidas por infecções passadas com outros coronavírus. Essas células de memória destroem o vírus.
Especialistas estimam que entre 10 a 15% dos seres humanos são capazes de produzir esses linfócitos de reação cruzada.
A segunda teoria também é muito interessante e diz que alguns seres humanos (especialmente crianças) possuem uma quantidade maior de substâncias naturais chamadas de receptores de reconhecimento de padrões (PRR) dentro de suas células.
Esses PRRs fazem parte do sistema de defesa do organismo e sua missão é destruir qualquer microrganismo que consiga penetrar no interior da célula.
Uma variedade desses receptores, chamados RIG-I, é muito ativa na destruição de vários tipos de vírus, incluindo o vírus influenza A que entra nas células. E um estudo europeu recente descobriu que o número de receptores RIG-I é maior em crianças do que em adultos, o que explica por que as crianças não desenvolvem formas graves da doença.
As conclusões dos estudos
Em suma, parece que certas pessoas, por meio de mecanismos geneticamente determinados, são capazes de não serem infectadas pelo coronavírus. Ou porque são protegidos de forma cruzada por infecções antigas por outros coronavírus ou porque produzem substâncias dentro de suas células que destroem o vírus.
Conhecer esse tipo de detalhe é importante para o desenvolvimento de novas vacinas ou medicamentos que possam dar proteção à maioria dos humanos sensíveis à infecção.
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