Militares leais ao governo de Nicolás Maduro atiraram contra um grupo de civis que tentava impedir o fechamento de parte da fronteira da Venezuela com o Brasil para a entrega de ajuda humanitária, deixando ao menos uma pessoa morta e várias feridas, de acordo com deputados da oposição e ativistas.
O conflito aconteceu no vilarejo indígena de Kumarakapai, na região de Gran Sabana, na fronteira com o Estado de Roraima, por volta das 6h manhã do horário local (7h em Brasília) desta sexta-feira, 22.
Uma mulher, Zorayda Rodriguez, de 42 anos, foi morta, de acordo com o advogado e ativista Olnar Ortiz. Segundo o deputado da Assembleia Nacional Américo de Grazia, outras 15 pessoas ficaram feridas pelos disparos, três delas em estado grave.
Os venezuelanos com ferimentos nos membros inferiores foram transferidos para o Hospital Rosario Vera Zurita, na cidade de Santa Elena de Uairén. Já os com ferimentos em membros superiores foram enviados para o Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista, de acordo com o jornal El Nacional.
O bloqueio na fronteira em Pacaraima foi temporariamente suspenso para a passagem de duas ambulâncias que transportavam os feridos.
De acordo com o jornal americano The Washington Post, tudo começou quando um comboio militar se aproximou do vilarejo, que fica em uma das principais estradas que ligam a Venezuela ao Brasil.
Alguns moradores se posicionaram em frente aos veículos dos soldados, para impedir sua passagem, e foram atingidos por tiros.
Segundo o Post, após o confronto, ao menos 30 moradores saíram às ruas e sequestraram três soldados venezuelanos. Pelo menos um membro da Guarda Nacional ainda estaria sob o poder dos indígenas.
Os responsáveis pelo ataque aos civis, segundo dirigentes da oposição, são agentes da Guarda Nacional Bolivariana e da Força Armada Nacional Bolivariana.
Os ativistas pertenciam à tribo indígena Pemones, que se uniu ao esforço da oposição para levar as doações do Brasil, Estados Unidos e outras nações aos venezuelanos.
A mulher que morreu é uma vendedora de empanadas que estava na área onde ocorreu o enfrentamento, a comunidade de Kumaracupay, enquanto os feridos são todos homens.
Apenas três deles, e devido à gravidade do seu estado, foram transferidos imediatamente a um centro de saúde, pois, segundo De Grazia, não havia gasolina nem ambulâncias para transferir os demais de imediato.
A ajuda chegou algum tempo depois e transportou mais algumas pessoas para receber cuidados no Brasil.
Na entrada da comunidade de Kumaracapai há uma placa com a inscrição “Guaidó presidente”. “Nunca apoiamos ou apoiaremos a ditadura”, disseram os índios a repórteres no local.
Bloqueio da fronteira
Na quinta-feira 21, o governo chavista de Maduro ordenou o bloqueio da fronteira com o Brasil por período indeterminado. O espaço aéreo entre os países também foi suspenso, por determinação do Instituto Nacional de Aeronáutica Civil.
O presidente venezuelano quer impedir que os venezuelanos entrem no Brasil para buscar a ajuda humanitária doada pelo governo brasileiro.
Maduro afirma que as ajudas são um “presente podre” que carrega o “veneno da humilhação”, apesar de reconhecer as dificuldades que a Venezuela atravessa. O chavista também já disse que não permitirá a entrada das doações, pois são uma tentativa de “invasão estrangeira”.
Além, do Brasil, Colômbia e Estados Unidos se mobilizam para enviar ajuda humanitária aos venezuelanos. Canadá e União Europeia (UE) também anunciaram doações em dinheiro, destinadas principalmente aos refugiados do país.
A situação econômica desastrosa da Venezuela é considerado pela ONU a mais maciça da história recente da América Latina.
O país possui as maiores reservas de petróleo do mundo, mas está asfixiado por uma profunda crise e pela hiperinflação, além de ser alvo de sanções financeiras dos Estados Unidos.
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