Por Mariana Diniz Lion
A gritaria toma conta das ruas. Uma pequena multidão de coletes amarelo-neon, os gilets jaunes, se une para balançar um Porsche novinho que estava estacionado paralelo à calçada. A gritaria continua e, quanto mais a gritaria cresce, com mais violência o carro se move. O carro vira. Com os vidros quebrados, o veículo ainda recebe chutes e pontapés.
Ao fundo, uma bomba explode, levantando labaredas de fogo. Eu poderia estar descrevendo um filme de ação Hollywoodiano, uma paródia de mau gosto ou uma chanchada exagerada. Mas é a realidade. Os franceses estão enlouquecidos pelo socialismo e, em alguma parcela, ficaram estagnados no século XVIII, onde a barbárie era uma legítima ferramenta política.
O que mais choca o espectador comum é que a França sempre foi não apenas o maior bastião da élégance e da étiquette, mas nas últimas décadas parecia um bom exemplo de país desenvolvido, que conciliou suas medidas econômicas e sociais ao longo do tempo, esbanjando savoir-faire.
Infelizmente, as coisas não são bem assim: a França se tornou um país extremamente assistencialista com os seus e com os imigrantes e, como sempre, alguém precisa pagar a conta. Não existe almoço grátis. Com o gasto público subindo e a necessidade de cumprir o acordo de Paris limitando as emissões de poluentes, a solução do governo foi aumentar os impostos sobre o petróleo.
Dessa forma, as pessoas seriam “incentivadas” a usar menos carros para não pagar caro na gasolina, deixando o mundo “mais saudável” e as pessoas que pagassem pelo combustível estariam de quebra contribuindo com o populismo, financiando as empreitadas governamentais através dos impostos. O grande problema é que aconteceu exatamente aquilo que sempre acontece quando há a imposição de ideias ruins sobre as pessoas – insubmissão e desobediência.
De repente, um país que sequer pagava imposto de renda retido na fonte por considerar uma invasão da privacidade de seus cidadãos, viu-se obrigado a arcar com combustível de mais de R$8,00 o litro. E que em 2019 pagará imposto também na folha de pagamento. É claro que há um ressentimento generalizado – ninguém gosta do socialismo na prática, nem de suas coerções maléficas.
E agora Macron se vê enfrentando um cenário que nós vimos aqui no Brasil. Aqui, a briga pelo aumento da tarifa de ônibus se tornou um movimento generalizado, onde esquerda e direita agregaram suas demandas aos protestos, que se desenvolveram para o mote “não é pelos vinte centavos” por parte da esquerda e então caiu nas graças da direita, culminando no “Fora Dilma”. O resto, a gente já sabe.
O que está acontecendo na França é parecido: todos estão encarando a sua própria “gota d’água”, culpam o governo, sindicatos e ambientalistas estão revoltados e tanto a esquerda quanto a direita pedem fervorosamente por novas eleições.
Assim como no Brasil, o cerne das revoltas carrega alguma verdade: os gilets jaunes empunham bandeiras onde deixam claro que os impostos são, nada mais nada menos, do que roubo. O grande problema é que a essência dos protestos se transfigurou, ultrapassando os limites daquilo que é razoável.
Queimar a propriedade de outras pessoas, pelo que ela pode representar, não ajuda a ninguém. Não foi o capitalista de Porsche quem pesou a mão com as canetadas – foi o burocrata populista.
Hoje em dia, o capitalismo provê qualidade de vida em todo planeta. Soluções tecnológicas e descentralização de informações têm conseguido trazer progresso e avanço para todas as pessoas, do mais rico ao mais pobre. E acarreta em benefícios até para o meio-ambiente em diversas situações. Hoje, não há mais a necessidade de imposições governamentais – as boas ideias, bem geridas, podem mudar o mundo sem precisar que o governo bata o martelo sobre elas. Hoje temos direitos humanos, democracias sólidas, diplomacia, dispositivos constitucionais.
Não precisamos derrubar a Bastilha a cada vez que o governo pisar na bola – se o Brasil conseguiu sua renovação política de forma pacífica e legal, a França também pode conseguir. Que a França sustente a sua igualdade formal, que dita que todos devem ser iguais perante a lei. Que deixe de lado a utópica igualdade material que distribui renda, fomenta o populismo, o roubo legalizado e que queima carros na rua.
Que não abram mão da liberdade por completo, sem precisar deixar a si ou seus bens como reféns da política. Que repudiem aquela liberdade concedida em doses homeopáticas apenas quando interessa ao agentes do poder. E que cultivem a fraternidade real, não a caridade feita com o chapéu do contribuinte, mas o verdadeiro voluntarismo sedimentado pela boa vontade de seguir boas ideias.
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