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Na guerra da última milha, Mercado Livre preparou a melhor estratégia para os negócios


Centro de distribuição do Mercado Livre em Cajamar

O Mercado Livre implanta centro de distribuição com um modelo de sortation center, em mais um lance da disputa por quem faz a entrega mais rápida do e-commerce brasileiro. Os detalhes foram revelados pela direção da empresa.


Durante muitos anos, a disputa entre as grandes varejistas brasileiras no e-commerce se concentrou na busca pela oferta do maior volume de produtos, o que acabou por consolidar o modelo de marketplace no País.


Mais recentemente, muitas dessas batalhas passaram a ser travadas nas trincheiras da logística, com a corrida para definir quem está na dianteira das entregas mais rápidas aos consumidores.


Para ganhar fôlego e se fortalecer nesse front, o Mercado Livre anuncia nesta quinta-feira, 4 de agosto, antecipado com exclusividade ao NeoFeed, a implantação de um sortation center dentro de um dos centros de distribuição da empresa.


Na prática, o conceito se traduz no uso da instalação para a separação prévia dos pacotes que são enviados aos centros de distribuição da companhia na última milha. Trata-se da primeira unidade da empresa nesse formato na América Latina.


Segundo Eduardo de Sá, diretor de transportes do Mercado Livre, a estrutura é um “centro consolidador”.


A ideia é diminuir os custos de transporte, uma vez que o processo envolverá, por exemplo, menos caminhões.

“É onde a gente vai consolidar a carga e entregar em todos os destinos do Brasil. Isso facilita todo o processamento e a entrega dos pacotes”, afirma Sá.

O executivo não revela as projeções de ganhos em termos de velocidade nesses processos com o projeto. Mas ressalta que, atualmente, 90% das entregas do Mercado Livre são feitas em até dois dias.

“É um movimento para ter mais domínio sobre a entrega”, diz Mauro Schluter, professor de logística da Universidade Prebisteriana Mackenzie.

“Ter caminhões cheios com destino para uma mesma localidade ajuda a diminuir a ociosidade. Se você não aproveita um caminhão, você tem perda.”

Localizado em Cajamar, município paulista que é comumente utilizado por diferentes empresas de e-commerce pela facilidade de acesso e a quantidade de galpões logísticos, a nova operação tem mais de 50 mil m² e já está em funcionamento.


A unidade deve abastecer mais de 100 centros menores dedicados para a última milha. Nesse primeiro momento, o sortation center tem 200 funcionários e movimenta entre 150 mil e 200 mil pacotes por dia.


Quando estiver com sua capacidade total, o que está previsto para o fim o ano, a instalação vai empregar 400 pessoas e terá capacidade de até 450 mil pacotes diários. O volume representa 30% do volume diário do Mercado Livre.


A ideia é que a unidade apoie a operação especialmente em períodos de alta demanda, como a Black Friday. No ano passado, a companhia realizou uma campanha em que ofereceu descontos de 70% em mais de 97 mil produtos durante todo o mês de novembro. Destes, quase 60 mil tinham entrega gratuita.


O valor do investimento realizado na nova instalação não foi divulgado. O montante integra os R$ 17 bilhões que a companhia destinou para impulsionar seu negócio em 2022.


O dinheiro está sendo utilizado tanto para a área logística como para outras divisões da empresa, como o Mercado Pago, fintech do grupo.


Numa fotografia mais ampla, o Mercado Livre reforça ainda mais a operação logística que já vinha crescendo em ritmo acelerado nos últimos anos.


O braço em questão já conta com diferentes centros de distribuição, com funções específicas na malha da companhia. Ao todo, a empresa tem 10 centros de distribuição fulfillment, onde são armazenados os produtos de parte dos sellers até que um consumidor realize a compra.


Antes de serem estocadas nessas unidades, esses itens são recebidos em instalações chamadas de receiving center, localizadas na capital paulista.

Eduardo de Sá, diretor de transportes do Mercado Livre

O Mercado Livre também estruturou uma base com 17 centros de cross docking, que são galpões menores e servem para a preparação dos pacotes antes da viagem final. Além de 96 service centers, exclusivamente dedicados à última milha. Até o fim do ano, a companhia espera inaugurar mais 20 centros nesse formato.


Contando os centros de distribuição, ao todo são mais de 124 estruturas que fazem parte da operação logística da empresa. A previsão é que este número passe para algo em torno de 145 até o fim de 2022.


Esse foi o segundo grande investimento do Mercado Livre em logística num intervalo de poucos meses. Em abril desse ano, a companhia anunciou um acordo com a Gol para quintuplicar suas entregas por via aérea. Com seis aeronaves dedicadas a essa operação, a capacidade de frete vai passar de 10 milhões para 40 milhões de pacotes por ano. O acordo entre as empresas tem duração de 10 anos.


Já na questão da última milha, o Mercado Livre realizou movimentos recentes envolvendo diferentes startups. Em agosto do ano passado, a companhia realizou a compra da operação da Kangu, focada em logística. Antes, por meio do Meli Fund, investiu na compra de participação minoritária na startups Mandaê, também voltada para entregas.


A novidade vem após a divulgação dos resultados financeiros do Mercado Livre no segundo trimestre deste ano. A empresa registrou receita líquida de US$ 2,6 bilhões, 56% maior do que no mesmo período do ano passado. Somente considerando a operação de comércio, a receita foi de US$ 1,4 bilhão, alta de 23% ante o segundo trimestre do ano passado.


A empresa não detalha números de receita em relação a operação em cada país. No caso do negócio no Brasil, sabe-se apenas que houve crescimento de 104% na receita líquida ante o segundo trimestre do ano passado. A companhia também informou que o Brasil respondeu por 21,8% do volume de vendas de US$ 8,6 bilhões no período, o que representa algo em torno de US$ 1,8 bilhão.


Os resultados agradaram o mercado. Avaliado em US$ 44,8 bilhões, o Mercado Livre registrou alta superior 6,3% na quartafeira, 3 de agosto. E, por volta das 20 horas, acumulava alta de 20,8% nas negociações após o fechamento do mercado.


Ainda nos resultados trimestrais, o Mercado Livre informou que despachou 264,1 milhões de itens no segundo trimestre, quase 27% a mais do que no mesmo período do ano passado. Do total, 91% corresponde a rede gerenciada do Mercado Livre, sendo 38,6% de envios via operação de fulfillment.


Guerra logística


Outras gigantes do setor também estão se movimentando nessa arena. Na Amazon, o último impulso veio com o seu primeiro investimento inorgânico no Brasil. Em abril, a empresa anunciou a compra de uma fatia de 9,68% da Total Express.


Com receita estimada em R$ 1,2 bilhão, a companhia brasileira de logística opera com 16 hubs e 120 bases de apoio para o last mile. Os valores não foram revelados. O Magazine Luiza, por sua vez, aposta no uso de suas lojas físicas como pequenos centros de distribuição de mercadorias.


Ao todo, são 1,4 mil unidades espalhadas pelo País. Antes da pandemia, apenas 180 lojas eram utilizadas para as entregas de encomendas compradas online. Agora, todas as unidades estão ativas nessa base. Além disso, a companhia comandada por Frederico Trajano inaugurou em fevereiro desse ano o seu maior centro de distribuição no país. Localizado em Guarulhos, o CD tem 119 mil metros quadrados e vai empregar mais de 1,4 mil pessoas. Até o ano passado, a empresa tinha mais de 20 centros de distribuição e 80 centros cross docking.


A companhia também apostou em aquisições para reforçar sua operação. Em 2018, comprou a operação da Logbee. Dois anos mais tarde foi a vez de adquirir a transportadora GFL.


Na Americanas, o passo mais recente foi um pouco diferente das rivais. Em junho, o mercado conheceu a Americanas Entrega, empresa de logística integrada que vai operar sob o guarda-chuva da companhia.


O negócio já nasceu com 200 hubs e 25 centros de distribuição (além de outros dois que serão inaugurados no Pará e na Bahia nos próximos meses). O valor do investimento não foi revelado. O front inclui ainda a Via. Em janeiro, a empresa dona das Casas Bahia e do Ponto, comprou o negócio da CNT, startup que opera com serviços de logística.


Com três galpões em uso em São Paulo, Espírito Santo e Bahia, a logtech é especializada em fulfillment. Com a transação, os mais de 108 mil vendedores cadastrados poderão utilizar uma solução semelhante a já ofertada por rivais da empresa.


 



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