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‘No ralo da corrupção se vai o nosso futuro’, diz Dallagnol


Procurador da República participou do seminário O Brasil Contra a Impunidade no Rio de Janeiro
“A Lava Jato é a a briga de um cachorrão contra um cachorrinho. E a gente é aquele cachorrinho bem bravo. E sabe porque ele não é esmagado? Porque não é um só, são 10, 20, 50 cachorrinhos. A nossa força é a força da sociedade, de um consenso social que vem se fortalecendo contra a corrupção e contra a impunidade no nosso país”.

A afirmação foi feita, nesta sexta-feira (12), pelo procurador da República Deltan Dallagnol durante seu discurso de apresentação no seminário O Brasil Contra a Impunidade, realizado no Rio de Janeiro.


O coordenador da Lava Jato no Paraná deu uma palestra para uma plateia de homens e mulheres de diferentes idades, todos interessados em ouvir o que ele tinha para dizer. No momento de sua chegada ao evento, uma pequena fila se formou com pessoas querendo cumprimentá-lo.


Iniciada em 2014, a operação Lava Jato revelou ao Brasil e ao mundo uma máquina sofisticada instalada no estado brasileiro e em empresas estatais e de capital misto, como a Petrobras, com o intuito de desviar recursos que seriam utilizados para enriquecimento pessoal e financiamento de campanhas eleitorais. Uma das peças utilizadas era a indicação de executivos feita por políticos.


Ao longo de sua apresentação, o procurador explicou o funcionamento da Lava Jato e deixou claro que a “corrupção é um crime muito difícil de descobrir”. Deltan disse que os esquemas descobertos já estavam em funcionamento desde o governo Sarney.

"– Desde o governo José Sarney, o esquema de indicações políticas para arrecadar para campanhas sempre foi o mesmo (…) Uma empreiteira implicou 415 políticos. Uma outra empresa fora da Lava Jato implicou 1.824 políticos. Isso é evidência de um sistema político apodrecido. É evidência de que tem uma coisa muito errada no nosso país" – apontou.

Plateia acompanhando a palestra do procurador

Apesar da importância a Lava Jato para revelar esquemas escusos, Deltan Dallagnol lembrou que somente a operação não é o suficiente para acabar com a corrupção no Brasil. Ele disse que é preciso se criar medidas para mudar a situação.

"– O que a Lava Jato faz é retirar maçãs podres do cesto. Mas se você tirar as maçãs e não tomar outras providências, no dia seguinte terão mais maçãs podres. Por isso a gente precisar criar as condições de mudanças. A gente tem que se importar porque o que sabemos sobre a corrupção é só a ponta de um imenso iceberg. Segundo algumas estimativas, a corrupção custa R$ 200 bilhões de reais por ano no Brasil. Lá no ralo da corrupção se vai a nossa educação, a nossa saúde, a nossa moradia e o nosso futuro" – ressaltou.

Muito aplaudido durante sua palestra, o coordenador da Lava Jato deixou claro que, mesmo com todos os problemas de corrupção encontrados no Brasil, ele acha errado dizer que todo político é corrupto.

"– Duas ressalvas importantes. Eu não estou dizendo que todo político é corrupto. É injusto você dizer isso.E em segundo lugar é burro dizer porque se cria um clima em que ninguém quer entrar na política. Se você quiser, vai ser criticado por todas. É isso que a gente quer? Temos quer apontar as falhas e reconhecer que o sistema tem falhado, mas não podemos cometer o erro de dizer que todo político é corrupto" – explicou.
Coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol explica a operação

Para explicar melhor seus pontos, o procurador levou dados apontando que os eleitos no processo eleitoral costumam ser os que mais gastaram dinheiro e por isso a grande quantidade de propina. Ele sugeriu aos presentes que façam doações a políticos de confiança para tentar quebrar esse padrão.

"– Se você quer quebrar essa rotina de que é eleito o que ganha propina, você tem que doar para os candidatos nos quais você acreditam, seja de direita ou seja de esquerda. Doe R$ 30, mas doe. Isso quebra nossa inércia, e estimula a nossa participação. E mais, se você doar R$ 30 nas próximas eleições, eu garanto que você não vai esquecer o nome do político que eleger. E mais, vai cobrar."

Dallagnol também explicou o motivo de insistir no combate à corrupção e a impunidade no Brasil.

"– Se eu não insistir no problema da corrupção, vocês vão passar a achar normal para se protegerem e não doer no coração (…) É a nossa indignação que pode mudar essa realidade. Eu tenho que falar isso porque a corrupção ainda inocula nas suas veias, nas minhas veias, nas nossas veias com um veneno paralisante que é o cinismo. Isso é olhar para cima e dizer: “Se ele lá em cima descumpre as regras, porque eu aqui vou ser otário de cumprir?" – questionou.

Mesmo com todos os problemas no sistema político brasileiro, o procurador deixou claro que a solução para o Brasil é a democracia.

"– De repente você passa a ver pessoas flertando com ideias autoritárias como se elas fossem mudar o Brasil. Olhem o que aconteceu ao redor do mundo. Todas as ditaduras do mundo vão de mal a pior. Só existe solução para o nosso país por meio da democracia. Não tem atalho. A gente vai ter que tirar a bunda da cadeira. Temos que aumentar nossa participação política. Se queremos mudanças, vamos precisar nos envolver" – concluiu.




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