Combate à dengue: estudantes criam velas e sabonetes à base de café
O Ministério da Saúde adverte: onze estados brasileiros correm risco de passar por um surto de dengue em março de 2020, incluindo os do Nordeste. Portanto, toda criatividade é bem-vinda no combate ao mosquito Aedes Aegypti, causador de doenças como dengue, zika e chikungunya. Principalmente no Verão, quando aumentam as chances de proliferação do inseto.
Já pensou se, por exemplo, o café nosso de cada dia fosse capaz de repelir esse agente transmissor? Pois foi isso o que um trio de estudantes do interior baiano descobriu, a partir da observação dos hábitos de agricultores que usavam a borra de café como inseticida. Provocados por um professor da feira de ciências que pediu soluções fáceis de encontrar no dia a dia, os alunos criaram velas e sabonetes repelentes à base de café.
“Descobrimos que a borra de café tinha uma substância chamada tiamina: complexo B1 de vitaminas capaz de proteger a pele contra a ação dos mosquitos”, explica João Vítor Almeida, 18 anos, que desenvolveu o estudo com Joana Santos, 21, e Daniela Pereira, 22, no curso técnico de meio- ambiente do Centro Estadual de Educação Profissional em Saúde Tancredo Neves (Ceeps), em Senhor do Bonfim.
Uso do café como repelente
Apesar de ter sido divulgada agora, a ideia surgiu em 2016, quando o Brasil vivia uma epidemia de zika, chikungunya e dengue. A primeira tentativa foi usar o café junto com o óleo de cozinha, para ser um produto mais sustentável. “Mas ficou muito grosseiro para a pele, causando irritação. Então colocamos a glicerina”, conta Joana, que mora em Campo Formoso (a 421 km de Salvador).
Já que sua cidade está com “muita muriçoca”, Joana aproveitou para testar os produtos com parentes e vizinhos. “Uma família que a gente testou - com sete filhos, marido e mulher -, não tinha recursos para usar todo dia repelente nessas crianças. Então fica um produto muito barato, feito com materiais que a gente ia descartar”, ressalta.
A vela é feita com parafina e óleo da borra de café, enquanto que o sabonete leva glicerina e essência de café. Os dois produtos, desenvolvidos na cozinha experimental do Ceeps, foram também doados para um grupo de pessoas carentes da região, onde há um alto índice de doenças transmitidas por mosquitos.
Cobaia dos produtos que são livres de aditivos químicos e estão em fase de teste dermatológico, o estudante do ensino médio Ítalo Matheus dos Santos, 18, conta que não sentiu nenhuma reação adversa no corpo: “Só vontade de comer”. “O repelente tem um aroma muito gostoso, que dá vontade de comer. Principalmente a vela. E olhe que eu nem gosto de café!”, ri Matheus.
O estudante, que mora com a mãe e três irmãs em Pindobaçu (a 320km de Salvador), conta que se ofereceu para testar o produto porque sua casa enfrenta uma infestação de mosquitos. “Eu usei e realmente funciona”, aprova, enquanto elogia a acessibilidade dos repelentes “que qualquer pessoa pode ter dentro de casa”.
“Saber que esse produto vai ajudar na melhoria da saúde de muitas pessoas que não têm condições de comprar um repelente tradicional nos dá uma sensação de dever cumprido”, comemora Daniela, que completa o grupo de pesquisa cujo objetivo é levar proteção para regiões que não possuem cobertura de agentes de saúde, como a zona rural.
Verão
Apesar da necessidade de pensar no combate do Aedes ao longo do ano, é no Verão que as pessoas se preocupam mais com o uso de repelentes. Afinal, é nesse período que viajam para casas de praia e outros lugares onde o mosquito se faz presente. Além dos produtos tradicionais, existem alternativas como a feita com café e receitas à base de citronela, como a compartilhada recentemente por Bela Gil.
“Sabe-se que óleos de citronela, por exemplo, têm função repelente, porém com duração curta, de no máximo de 2h”, explica a dermatologista Ana Lísia Cunha, 44, que trabalhla no Hospital das Clínicas e na Alergodermoclin. “Mas não há grande número de informações acerca das alternativas caseiras na literatura médica”, alerta a profissional.
Saiba como fugir dos mosquitos
Evite roupas escurasRoupas escuras atraem mais o mosquito. No uso de roupas longas, o indicado é aplicar o repe- lente sobre as roupas e não abaixo delas, na pele. Pessoas alérgicas a picadas “exalam” óxido nitroso e isso atrai o inseto. Bebida alcoólica e perfume não atraem insetos, a não ser abelhas.
Use protetor solar
Não é recomendável exposição solar direta ao usar repelente. Este deve ser o último produto a ser passado no corpo. Se precisar fazer uso de protetor solar, por exemplo, aplica-se primeiro o filtro e depois o repelente, sendo que este último precisa de 30 minutos para fazer efeito.
Escolha o tipo certo
Bebês abaixo de 6 meses só podem usar repelentes à base de aminopropionato de etila. Entre 6 meses e 2 anos, existem outras opções como citronela, icaridina em baixa concentração. Acima de 12 anos o leque de opções aumenta. As gestantes podem usar repelentes a base de icaridina.
Opte pela icaridina
Esse é o princípio ativo para repelentes mais indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). vantagens: maior tempo de duração, chegando até 12h; sua camada de proteção na pele chega a 4 centímetros; é seguro para crianças e gestantes, pois possui baixa absorção pelo organismo.
Cuidado com a alergia
Todo produto químico tem riscos de provocar reação alérgica. Caso o repelente tenha um odor forte, por exemplo, pode causar irritação das vias aéreas em pacientes alérgicos. A reposição dos produtos não deve ser superior ao número de vezes orientado pelo médico.
Crie alternativas
Óleos de citronela têm função repelente e a queima da borra do café por si só repele os insetos. A partir disso os estudantes João Vitor, Joana e Daniela criaram sabonetes e velas repelentes. Como queimar a borra: colocar para secar em recipiente resistente ao fogo e acender.
Lembre da prevenção
Por ser eficaz contra o Aedes aegypti, o repelente previne contra doenças como dengue, Chikungunya, zika vírus e febre amarela. Seu uso, porém, não exclui a necessidade das ações de combate aos mosquitos, tais como não deixar água parada em pneus, garrafas, ralos, vasos e piscinas.
Cuide do lixo
Entulhos e lixos devem ser descartados no horário certo em que o caminhão vai passar, porque em pouco tempo pode chover e apenas duas horas são sufi- cientes para o mosquito se proliferar. Mantenha a lixeira tampada e protegida da chuva. Feche bem o saco plástico.
Atenção no Verão
As chuvas que acontecem na época mais quente do ano aumentam os locais com água parada, onde o mosquito se reproduz. Associado a isso, o calor acelera o ciclo de vida do inseto, que passa a precisar de menos dias, o que contribui para aumentar a sua proliferação.
Fique atento
O Brasil registrou 1.544.987 casos de dengue em 2019, com 782 mortes, segundo o Ministério da Saúde. Ou seja, houve um aumento de 488% em relação a 2018, um ano considerado atípico. Segundo o Ministério, onze estados poderão ter surto de dengue em março de 2020, incluindo todo o Nordeste.
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