Os donos dos prostíbulos – em geral escondidos sob a fachada de bares – pagam propinas à polícia e aos soldados da força de paz da ONU para que seus negócios não sejam ameaçados. E policiais locais e os soldados vindos do estrangeiro fazem uso das garotas, numa ampla rede de corrupção, acobertamento e violência.
A própria Kathryn Bolkovac, cuja história é contada, foi consultora dos realizadores do filme. É a visão e a versão dela que o filme retrata.
Nisso, este belo, importante filme, se aproxima de outros feitos recentemente contando histórias de personagens reais tendo como pano de fundo fatos importantes da Grande História, como, por exemplo, “Jogo de Poder”, baseados nos livros autobiográficos do casal Valerie Plame e Joe Wilson, que deixam claro como a administração George W. Bush mentiu descaradamente para justificar a invasão do Iraque.
A aterrorizante experiência de Kathy Bolkovac, no entanto, é bem menos conhecida do que a mentira de Bush e sua quadrilha a respeito das armas de destruição de massa do ditador Saddam Hussein.
E é exatamente o fato de esses horrores na Bósnia pós fim da guerra serem pouco conhecidos que torna este filme imprescindível. É um belo filme, muitíssimo bem realizado; mas o tema que ele mostra ao mundo o torna, além de belo, fundamental, imprescindível.
A ONU terceirizou o trabalho para empresas privadas de segurança
Considero-me uma pessoa razoavelmente bem informada, mas não sabia (ou, se já soube, não me lembrava mais) que a ONU terceirizou para empresas privadas de segurança a manutenção das tropas de paz na Bósnia, no final dos anos 1990. A denúncia maior é contra uma dessas empresas – e, ao final da narrativa, antes dos créditos finais, uma legenda informa:
“O contratador privado que demitiu Kathryn Bolkovac continua a negociar com o governo dos Estados Unidos, incluindo contratos no valor de bilhões de dólares no Iraque e no Afeganistão.”
Assim, embora a denúncia principal seja contra uma empresa privada de segurança, uma gigantesca corporação, sobra muita lama para a própria ONU, assim como para o governo dos Estados Unidos.
É o tal negócio. Os crimes mostrados pelo filme – e há sequências horrorosas, apavorantes, de uma violência inimaginável – são daquele tipo de prova de que a humanidade é uma invenção que definitivamente não deu certo. No entanto, a existência de pessoas como Kathryn Bolkovac, e de filmes como este, indicam o contrário – que, afinal, pode ser que não seja uma invenção errada.
Um filme que tem que ser visto
Esse filme ousado, vigoroso, foi produzido com capital alemão e canadense. O site Box Office Mojo diz que não está disponível o custo do filme, mas não foi, certamente, uma produção barata. Além de Rachel Weisz, uma estrela respeitável, que trafega com desenvoltura tanto por produções do cinemão comercial, como “Vigaristas”, quanto por filmes sérios, densos, como “O Jardineiro Fiel”, de Fernando Meirelles (pelo qual ela recebeu o Oscar de atriz coadjuvante), o elenco tem ainda Vanessa Redgrave, Monica Bellucci e David Strathairn. A deusa Vanessa e Strathairn, grande ator de importantes filmes independentes, os dois sempre engajados em causas políticas, seguramente participaram do projeto mais por idealismo que por dinheiro. E não deve ter sido outro o motivo pelo qual Monica Bellucci aceitou o papel antipático, desagradável, de uma alta funcionária que é ou cega ou corrupta – ou os dois. O Box Office Mojo diz que o filme, uma produção de 2010, estreou nos Estados Unidos em 5 de agosto de 2011, o que é fantástico, porque o DVD e o Blu-ray já estavam na locadora que frequento no dia 13 de agosto, uma semana exata depois da estréia americana.
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