Fortalecido internamente, o Secretário de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, imprime nova diretriz à comunicação do governo
Em determinado momento da campanha eleitoral no ano passado, a agora deputada estadual Janaina Paschoal alertou durante um evento da campanha de Jair Bolsonaro que era preciso cuidado para que seu futuro governo não virasse um governo do PT “ao contrário”.
Houve dentro do governo Bolsonaro quem defendesse que esse vaticínio de Janaína se confirmasse pelo menos na comunicação oficial. Por esse caminho, pretendia-se tentar sufocar a imprensa tradicional, alimentando uma aproximação com a sociedade via redes sociais e blogs e demais veículos mais alinhados ao governo.
Exatamente o que tentou fazer o PT em sua era. O modelo petista fracassou e não conseguiu frear os movimentos oposicionistas que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff e à vitória de Bolsonaro. Talvez a partir dessa constatação, quem defendia tal linha perdeu a queda de braço interna.
A orientação que será dada pelo Secretário de Governo, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, para a comunicação oficial de governo é oposta. Pretende ser a mais apartidária e institucional possível. O que Santos Cruz deseja é ampliar ao máximo os canais de comunicação com o objetivo de ganhar os corações e mentes da sociedade para a necessidade da reforma da Previdência e outras mudanças que o governo pretende implementar.
O que se deve esperar é um discurso mais formal, sem espaços para manifestações culturais alternativas. Parecido com o tipo de comunicação que era feita pelos governos militares antes da redemocratização em 1985. “Não será uma comunicação de viés ideológico”, afirmou a ISTOÉ Santos Cruz. “Será uma comunicação limpa, objetiva, esclarecendo as medidas e relações governamentais. Uma informação honesta à população sobre as ações do governo”.
Serão priorizadas, segundo ele, os chamados serviços, como campanhas de vacinação. Atualmente, todos os contratos de publicidade do governo federal estão em fase de revisão. Segundo Santos Cruz, serão mantidos aqueles com preços adequados ao mercado e em que o governo não encontrar qualquer tipo de indício de irregularidade. Esse processo de revisão de contratos deve durar aproximadamente 120 dias. Na largada, a ideia do secretário de Governo é centrar fogo na reforma da Previdência. Nesse sentido, ele afirma que o governo não vai privilegiar veículos por sua posição ideológica.
Para tentar convencer a sociedade da necessidade da reforma da Previdência, a publicidade buscará os veículos com maior amplitude: aqueles que têm mais capacidade de alcançar as pessoas e transmitir a mensagem que o governo deseja.
Governo vai manter a EBC, mas a ideia é reduzir a estrutura e conferir à emissora um caráter mais oficial, voltado para o jornalismo de serviços.
PASSOU NO TESTE
O tipo de mensagem objetiva que o governo quer passar vem sendo adotada pelo porta-voz da Presidência, o também general Otávio Santana do Rêgo Barros. A atuação do general, que era o chefe do Centro de Comunicação do Exército (Cecomsex), vem sendo elogiada pelo próprio Bolsonaro.
Rêgo Barros começou a trabalhar como porta-voz no final de janeiro, e a avaliação é que ele tem conseguido tirar Bolsonaro das saias-justas anteriores, quando o presidente chegou a ser desautorizado e desmentido por ministros e secretários por dar informações que estavam incorretas ou não se concretizaram. O teste de fogo de Rêgo Barros foram os boletins diários sobre a saúde de Bolsonaro durante seu período de internação para a retirada da bolsa de colostomia. A avaliação é que o general saiu-se muito bem.
O estilo que Santos Cruz pretende imprimir à comunicação deverá ser sentido de forma clara na TV Brasil e na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). O governo desistiu do projeto ventilado na campanha de que poderia extinguir a EBC. Vai mantê-la. Mas com novo formato e possivelmente bem mais enxuta. A ideia, segundo apurou ISTOÉ, é fazer na programação uma “limpeza contra a esquerda”.
A intenção é conferir um caráter mais institucional ao canal de TV, fazendo dela um braço de divulgação das ações do governo federal. O modelo ainda está sendo discutido. Além disso, planeja-se reduzir a estrutura. A EBC hoje conta com aproximadamente 2 mil servidores e já custou cerca de R$ 6 bilhões nos últimos 12 anos. Na semana passada, a Secretaria de Comunicação enviou um comunicado aos ministros sobre o novo perfil. Segundo a nota, a nova TV surgirá “com um objetivo mais voltado para o cidadão”. Terá “uma programação totalmente voltada para o povo brasileiro”.
O risco agora para o governo é manter coerência entre a linha de comunicação nas redes sociais, onde a pegada é mais agressiva, e nos veículos. Do contrário, o governo acabará explicitando aos cidadãos sua falta de unidade e disputas internas. Longe das fardas e do formalismo militar, talvez seja prudente lembrar de um comunicador mais anárquico e que usava fantasias. O célebre Abelardo Barbosa, o Chacrinha, que dizia: “Quem não se comunica, se trumbica”.
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