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CRIMES POLICIAIS: Comandante 'quer caixão' diz PM referindo-se à mortes em favelas do Rio de Janeiro

Os métodos de policiais militares denunciados pelo Ministério Público do Rio para extorquir dinheiro de traficantes incluíam tortura e até assassinatos

Policiais que tiveram prisão decretada na Operação Mercenários Foto: Reprodução

Os homicídios serviriam de exemplo para quem não pagava o valor da propina exigida, conforme revelam conversas extraídas dos celulares de alguns dos alvos da Operação Mercenários, desencadeada na quinta-feira.


Num dos diálogos, o sargento Adelmo da Silva Guerrini Fernandes, braço direito do ex-comandante do 21º BPM (São João de Meriti), tenente -coronel André Araújo Oliveira, afirma para um outro colega de farda que o oficial "quer caixão", o que é interpretado pelos promotores como um passe-livre para que seus subordinados matem criminosos indiscriminadamente.


Durante as investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP, há outras conversas extraídas de celulares que indicam que o grupo demonstrava força para exigir valores exorbitantes.


De acordo com a denúncia, em 8 de junho de 2020, o sargento Adelmo encaminhou para o grupo de WhatsApp Mercenários — daí o nome da operação — um vídeo e foto com a tortura sofrida por um homem.


Além de tapas, ele passou por uma sessão de sufocamento com saco de lixo na cabeça. A vítima teria sido presa por eles em flagrante por tráfico de drogas.


Nove dias depois, segundo a denúncia, Adelmo e os denunciados, os sargentos Mário Paiva Saraiva, o Marinho; Denilson de Araújo Sardinha, o Sardinha; e o subtenente Antônio Carlos dos Santos Alves, o Santinho; repetiriam a sessão de tortura com outra vítima.


Antes de trocarem de batalhão, cabia a Adelmo saber com outros policiais como era a arrecadação de propina da unidade que iriam atuar.


De acordo com os promotores do Gaeco, o sargento "recrutava" outros PMs para serem seus informantes. Foi o que aconteceu quando o grupo foi lotado para o batalhão de São João de Meriti.


Em 25 de janeiro de 2020, Adelmo pergunta ao sargento Oly do Socorro Biage Cei de Novaes, que já tinha trabalhado na unidade , quanto o grupo dele faturava lá: "chega a mil".


Ressabiado, Biage responde: "É...Isso aí... é isso aí". Adelmo insiste: "o pessoa aí faz troia", ou seja, uma espécie de tocaia para surpreender traficantes. Biage afirma que sim, mas que lá é fraco de propina: "pega merreca". Mas o PM, que atua como informante, acaba indicando outros locais supostamente rentáveis.


Em outras conversas, em 26 e 27 de março de 2020, Adelmo encaminha para o PM Wiliam de Souza Noronha fotos de um homem morto, com uma perfuração pelas costas. O sargento diz: "Aí, compadre, menos um".


O diálogo continua e, segundo o MP, há "inúmeras demonstrações de que tal morte só ocorreu porque houve a recusa ao pagamento da propina". Wiliam, por sua vez, afirma que o "jeito é colocar esse fdp (sic) no lugar dele", e complementa: "fica de gracinha, bala no rabo" (sic).


Até o fim da noite de quinta-feira, nove dos 11 policiais militares, cujos mandados de prisão foram expedidos pela Auditoria Militar, estavam detidos. Todos foram levados para o Batalhão Especial Prisional (Bep).


O então comandante do 15º BPM, tenente-coronel André Araújo, foi exonerado do cargo. Ele e o capitão da P2 (serviço reservado) da unidade, Anderson dos Santos Orrico, foram alvos de mandados de busca e apreensão em suas casas e em seus gabinetes no quartel.


Na residência e na sala de Orrico, o MP e a Corregedoria da Polícia Militar apreenderam cerca de R$ 132 mil. O oficial passou a noite de quinta-feira depondo na 1ª Delegacia de Polícia Judiciária da PM, no Méier.


 

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