Depois de o presidente Jair Bolsonaro (PSL) orientar que os quartéis comemorem o aniversário do golpe militar de 1964, ocorrido em 31 de março, estão sendo preparadas pelos militares solenidades nos moldes daquelas em que "se comemora um fato histórico em que o Exército tenha tomado parte".
A informação foi confirmada pelo Centro de Comunicação Social do Exército, em resposta a questionamentos enviados pelo UOL sobre a cerimônia.
O evento também já aparece na agenda do comandante do Exército, General Edson Leal Pujol, como "solenidade comemorativa".
A comemoração está agendada para a sexta-feira (29), às 8h, no Comando Militar do Planalto, em Brasília, e "seguirá os mesmos procedimentos previstos na legislação", segundo o Exército.
Haverá apresentação da tropa à autoridade militar mais antiga, os presentes cantarão o hino nacional, será lida uma ordem do dia e depois haverá um desfile para a autoridade máxima presente. Hoje, o MPF (Ministério Público Federal) afirmou que a recomendação sobre as celebrações é "revestida de enorme gravidade constitucional" e desrespeita o estado democrático de direito.
Governo com grande presença militar
O governo Bolsonaro reúne o maior número de militares na Esplanada dos Ministérios desde o período da ditadura, que se iniciou em 1964 - quando um golpe militar derrubou o ex-presidente João Goulart - e terminou apenas em 1985.
Em entrevista coletiva concedida ontem, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirmou que "o presidente não considera 31 de março de 1964 golpe militar" e que os 21 anos de ditadura serviram para "recolocar o nosso país no rumo".
O presidente foi convencido que as celebrações sejam feitas de maneira discreta, sem manifestações públicas, como era antes de a ex-presidente Dilma Rousseff retirar a data do calendário oficial de comemorações do Exército. O receio é que comemorações públicas efusivas possam piorar o clima político do país e ofuscar a reforma da Previdência, prioridade do governo.
Bolsonaro e a ditadura
Ainda antes de entrar na corrida ao Palácio do Planalto, Bolsonaro já demonstrava admiração pelo período da ditadura. Em abril de 2016, durante votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o então deputado homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi de São Paulo, órgão de repressão política do governo militar.
"Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff", disse, na ocasião, ao votar a favor da cassação do mandato.
Dilma foi presa em 1970 e torturada por agentes da ditadura enquanto pertencia à luta armada formada pela esquerda brasileira. Ustra é acusado de ter comandado torturas a presos políticos, assim com a ex-presidente.
É dele o livro de cabeceira de Jair Bolsonaro, de acordo com entrevista dada ao programa Roda Viva, da TV Cultura, durante o período eleitoral. "A Verdade Sufocada" conta o que ocorreu no período da ditadura sob o ponto de vista dos militares, dizendo "a história que a esquerda não quer que o Brasil conheça".
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