Com informações do INEP/ACS
Segundo a Pisa(*), as salas de aula do Brasil estão entre as mais indisciplinadas do mundo, mostram pesquisas. Automaticamente, os professores brasileiros são alguns dos que mais "perdem tempo" tentando manter a sala em ordem. E esse cenário tem uma relação direta com o desempenho dos alunos.
Diz a Talis(**) que no Brasil, 94% dos professores dos anos finais do ensino fundamental concluíram a educação superior. Mais de 95,1% acreditam que podem ajudar os alunos a pensar de forma crítica. As constatações aparecem nos resultados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis), realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e coordenada no Brasil pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
A Talis foi realizada por amostragem, em 2013, em 34 países. Mais de 106 mil professores responderam à pesquisa. No Brasil, a amostra foi composta por 14.291 professores e 1.057 diretores de 1.070 escolas. O objetivo é comparar internacionalmente a opinião de professores e diretores sobre desenvolvimento profissional, crenças e práticas de ensino, apreciação do trabalho dos professores, feedback (retorno) e reconhecimento do trabalho, além de questões acerca de liderança, gestão e ambiente de trabalho.
Segundo a Talis, o professor típico brasileiro é mulher (71%), tem 39 anos de idade e 14 de experiência no magistério, em média. Nos outros países, as mulheres também são maioria nas escolas (68%), têm 43 anos de idade e 16 de experiência. Elas também são maioria em cargos de direção no Brasil (75%). Nos outros países, esse percentual é de 49%.
Os professores brasileiros estão entre os que passam o maior número de horas por semana ensinando. São 25 horas semanais, seis horas a mais do que a média dos países pesquisados. Eles relatam investir 20% do tempo de aula na manutenção da ordem em sala. Essa média, nos países da Talis, é de 13%. Além disso, no Brasil, 86,9% dizem estar, de modo geral, satisfeitos com o trabalho. Apenas 13,5% se dizem arrependidos da opção pelo magistério.
Em contraste com isso a Pisa detectou que ultrapassa os 40% o índice de alunos que reconhecem que, em todas ou na maioria das aulas, o professor precisa esperar muito tempo para ensinar, até conseguir que a turma pare de bagunçar. A média dos países membros da OCDE é muito menor: 26%.
Desenvolvimento – A maior parte dos professores entrevistados participou de algum programa de desenvolvimento profissional nos 12 meses anteriores à pesquisa. No Brasil, os docentes passaram, em média, 21 dias em treinamento em organizações externas. Nos outros países, essa média é de sete dias. No entanto, os professores brasileiros relataram participação um pouco menor do que a média para outras atividades de desenvolvimento profissional, como cursos e oficinas (66%), conferências e seminários (39%), visitas e observações a outras escolas (12%) e rede de trabalho de professores (26%).
A Talis também aponta que 60% dos professores brasileiros declararam ter grande necessidade de desenvolvimento profissional na área de ensino para alunos com necessidades específicas. Esse é o maior percentual entre os países participantes da pesquisa.
Já a Pisa diz que com um ambiente educacional indisciplinado, o resultado é o que o Brasil já tem verificado ao longo de vários anos: fraco desempenho escolar e presença nos mais baixos patamares em rankings internacionais de educação.
Apenas 18,4% dos professores brasileiros concordam que os professores com melhor desempenho em sua escola recebem maior reconhecimento. A pesquisa pediu também opinião sobre a valorização da profissão, desempenho escolar, escolha pela profissão docente, avaliações nacionais e o índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb).
O presidente do Inep, Chico Soares, apontou a importância de comparar as condições de trabalho e opiniões dos professores brasileiros com outros países. “Esses dados serão incorporados aos dados do Censo Escolar e das avaliações nacionais para que o Inep possa criar quadros ainda mais descritivos da situação educacional brasileira”, disse.
Talis – A Pesquisa Internacional sobre o Ensino e Aprendizagem (Teaching and Learning International Survey) coleta dados comparáveis internacionalmente sobre o ambiente de aprendizagem e as condições de trabalho dos professores nas escolas. O objetivo é fornecer informações válidas, oportunas e comparáveis do ponto de vista dos profissionais nas escolas para ajudar os países a revisar e a definir políticas para o desenvolvimento de uma profissão docente de alta qualidade.
A Pisa destacou que na outra ponta, estão as escolas privadas e federais, como as de modelo militar. Avaliadas pelo Pisa, essas instituições, além de não terem os mesmos índices de indisciplina, figuram positivamente em leitura, matemática e ciências. E poderiam, se analisadas isoladamente, ranquear o Brasil em ótimos patamares.
O relatório internacional da Talis está disponível na página da OCDE(***)na internet. O relatório brasileiro da pesquisa, com resultados por unidade da Federação.
Referências:
(*) Pisa – Programme for International Student Assessment, uma metodologia internacional que avalia os sistemas de ensino em todo o mundo, medindo o nível educacional de jovens de 15 anos por meio de provas de leitura, matemática e ciências. O exame é realizado a cada três anos pela OCDE.
(**) Talis – Teaching and Learning International Survey é a Pesquisa Internacional de Ensino e Aprendizagem, é uma avaliação mundial sobre as condições de ensino e aprendizagem, realizada pela primeira vez em 2008. É coordenada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, com o objetivo de melhorar as políticas e os resultados educacionais.
(***) OCDE é a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico e representa uma estruturação formada por países e parceiros estratégicos dedicados ao desenvolvimento econômico. Os membros pretendem discutir políticas públicas e econômicas que os orientem. Esses países apoiam os princípios da democracia representativa e as regras da economia de mercado. As reuniões realizadas pela organização oportunizam discussões entre seus membros, que, ao trocarem experiências sobre suas atuações governamentais, criam possibilidades a respeito da gestão de políticas em inúmeras áreas, bem como a solução de possíveis problemas.
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